No aniversário de Curitiba, conheça a história da Fonte da Praça Zacarias 29/03/2022 - 08:07

No dia 29 de março é comemorado o aniversário de Curitiba. A cidade foi fundada em 1693 e agora em 2022 comemora seus 329 anos. No início seu nome era Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, como ficou conhecida até 1721, quando passou a ser chamada de Curitiba, com nome de origem indígena que surgiu do Guarani, Kurytyba, e que significa "grande quantidade de pinheiros". Na longa história da cidade, existem marcos históricos que são pouco conhecidos pela população. Um deles fica na Praça Zacarias, mais especificamente a fonte que lá se encontra e sua. Eis um pouco de sua história, para mostrar a importância desse marco para a cidade de Curitiba e para a história do Paraná.

Com a emancipação paranaense do estado de São Paulo, em 1853, Zacarias Góes de Vasconcellos se tornou o primeiro presidente da Província do Paraná. Durante seu governo foram criadas medidas para o desenvolvimento da região, já que na recém-nascida província faltava todo tipo de infraestrutura. O processo de crescimento do Paraná pedia por uma forte administração pública por parte de Zacarias, mas também de uma rede de colaboradores interessados nesse crescimento, tanto de elites regionais e de importância nacional.

Uma das figuras de destaque deste período no Brasil foi Antônio Rebouças, nascido em 1798 em Maragogipe, cidade no interior da Bahia, filho de um alfaiate português e de uma escravizada liberta. Participou das guerras de independência no território baiano e seu envolvimento político fez com que chegasse ao cargo de deputado na Bahia e em Alagoas, além de exercer advocacia e ser autor de diversas obras relacionadas à advocacia. Passou por dificuldades e repressões durante sua carreira, ao conseguir cargos de destaque e crescimento na vida política, por proprietários de terras que se incomodavam com um homem negro responsável por negócios do governo.

Casou-se com Carolina Pinto Rebouças, com quem teve sete filhos, entre eles André Pinto Rebouças e Antônio Pereira Rebouças Filho, popularmente conhecidos como Irmãos Rebouças. Os dois se formaram em engenharia pela Escola Militar, em 1858, e conquistaram a patente de primeiro-tenente, junto com suas cartas de engenheiros militares em 1861. No ano seguinte viajam para a Europa para estudar.

A Praça Zacarias em 1936
A Praça Zacarias em 1936 (Acervo Casa da Memória)

 

Quando retornaram para o Brasil, trabalharam como comissionados do Estado brasileiro com vistoria e aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas, que eram vistos como estratégicos para a defesa da soberania brasileira no período. Com o fim desses trabalhos, em 1863, Antônio se muda para Santa Catarina e André para o Rio de Janeiro.

Com o início da Guerra do Paraguai, em 1864, André Rebouças é convocado para atuar como engenheiro militar, retornando após contrair varíola e se desligando das atividades militares logo em seguida. Depois de tentar assumir uma vaga de professor na Escola Central do Rio de Janeiro, mas sendo proibido, começa a criar alguns projetos com seu irmão, Antônio, que por sua vez tinha como interesse buscar empréstimos e investimentos, tanto de companhias particulares como de bancos nacionais e internacionais para a modernização do país. Isso faz com que os irmãos ganhem prestígio e consigam projetos pelo território nacional.

 

É nesse cenário de grandes mudanças que Zacarias assume a Presidência da Província e inicia os planejamentos para a modernização e desenvolvimento do Paraná. Entre as transformações que estavam acontecendo no período, os Irmãos Rebouças, que estavam na província na época, realizam uma intervenção de grande importância para Curitiba – o chafariz do Largo do Mercado – como era conhecida a Praça Zacarias na época, por conta da instalação de um mercado público no local em 1864. Em 1876, o mercado foi transferido para a atual Praça Generoso Marques e, em seu lugar, foi inaugurado o Museu de Curitiba.

Durante sua passagem por Curitiba, Antônio Rebouças conseguiu ver do Largo da Misericórdia – atual Praça Rui Barbosa – que uma corrente de água cristalina ia até a Praça do Mercado (atual Zacarias), e projetou um chafariz com uma bacia para evitar o desperdício dessa água, além de colunas que dificultassem a aproximação de animais que estivessem por perto. O tráfego na área era basicamente de trabalhadores, escravizados e libertos.

O chafariz foi concluído em 1871 e, mesmo sendo considerado “simples” na sua complexidade quando comparado a outras criações dos Irmãos Rebouças no Estado do Paraná, foi considerado um marco para a cidade de Curitiba, por conta de sua importância para o desenvolvimento e a saúde dos moradores da região, que dessa maneira também auxiliaram no avanço dos planos de desenvolvimento da província.

BIBLIOGRAFIA: 
FILHO, Magalhães Francisco. Evolução histórica da economia paranaense. 1996.
MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. História e memória da escravidão no Paraná: Possibilidades de uma produção na perspectiva da história pública. Texto apresentado no 7º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Curitiba (UFPR), de 13 a 16 de maio de 2015. Anais completos do evento disponíveis em http://www.escravidaoeliberdade.com.br.
TAKEUCHI, Washington Cesar. As torneiras da Praça Zacarias. Disponível em: http://www.circulandoporcuritiba.com.br/search/label/Fonte%20da%20Pra%C3%A7a%20Zacarias.
TREIGHER, Thamiris. Conheça a história dos Irmãos Rebouças, os primeiros engenheiros negros do Brasil. Disponível em: https://inbec.com.br/blog/conheca-historia-irmaos-reboucas-primeiros-engenheiros-negros-brasil.