O Museu da Imagem e do Som do Paraná completou 55 anos de existência no ano de 2024 com avanços na preservação e difusão do patrimônio audiovisual paranaense. Dentre os passos importantes estão a ampliação da área expositiva e de reserva técnica, a revitalização de espaços históricos e o lançamento do projeto Cadeia Produtiva, que iniciou diversas atividades culturais.
Ao longo do ano, o MIS-PR reafirmou seu compromisso com a memória e a transformação cultural. “Com um acervo riquíssimo e a busca por tecnologias de ponta, o MIS-PR se prepara para democratizar ainda mais o acesso à cultura e à história, contribuindo para o desenvolvimento do setor audiovisual no Paraná e no Brasil.", afirmou Mirele Camargo, diretora do Museu da Imagem e do Som do Paraná.
CADEIA PRODUTIVA – O espaço batizado de Cadeia Produtiva, projeto que iniciou parcialmente no mês de outubro, faz parte da expansão dos espaços físicos do museu no Palácio da Liberdade. O terreno em torno do prédio histórico tombado e sede do MIS-PR estava ocupado pela Polícia Civil, como um centro de triagem de detentos. Com a conclusão do processo de transferência, os espaços repassados para fim cultural adicionaram 4 mil metros quadrados à área da instituição museal.
A ressignificação do espaço se baseia em amplo trabalho de pesquisa, interlocuções e busca de parcerias. O MIS-PR consultou uma série de instituições relevantes, como o Museu do Carandiru e o Museu da Resistência, ambos em São Paulo, além de estabelecer diálogos com a Defensoria Pública, a Polícia Penal do Paraná (PPPR), o Instituto Médico Legal (IML) e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O esforço visa compreender e readequar o local de maneira sensível com a reflexão sobre memória, cultura e direitos humanos.
Para transformar a antiga ocupação em um novo ambiente cultural, o lugar está sendo temporariamente readequado, antes de entrar em processo da obra, prevista para o ano de 2025, com nova sinalização, iluminação, cenografia e com o resgate de memórias do local. A primeira fase do projeto de ressignificação terá duração de 12 meses. Por enquanto, o espaço utilizado para sessão de filmes e outras ações como oficinas, palestras e seminários é um antigo vão livre que dava acesso aos detentos, enquanto a área carcerária ainda será revitalizada.
O MIS-PR inaugurou as atividades culturais do novo espaço com a Mostra Iconoclássicos, em parceria com o Itaú Cultural. Durante cinco dias, foram exibidos filmes gratuitos do IC Play sobre grandes nomes da cultura brasileira, como Paulo Leminski, José Celso Martinez Corrêa, Itamar Assumpção, Nelson Leirner e Rogério Sganzerla, acompanhados de debates sobre arte, política e identidade.
Para finalizar as atividades de 2024 na nova instalação, o Cadeia Produtiva recebeu uma sessão especial de cinema do DJANHO!, um dos maiores festivais de cinema fantástico do Brasil. O filme foi o “Godzilla” (1954), de Ishiro Honda, em comemoração aos 70 anos da estreia do clássico do cinema kaiju no Japão.
DIÁLOGOS – A articulação do MIS-PR foi fundamental para a promoção do audiovisual paranaense e formação de parcerias com outras instituições culturais. A exemplo disso, foi a participação em eventos nacionais como o CineOP, o Festival de Cinema da Lapa, o Seminário da Funarte, o Fórum Nacional de Museus e o Fórum Brasileiro de Museus da Imagem e do Som.
A exemplo dessa integração, o MIS-PR é coordenador do Fórum Brasileiro dos MIS até 2026, e sediará a terceira edição do evento em Curitiba em 2025. No encontro deste ano, que ocorreu em Fortaleza, o evento reuniu gestores, especialistas e artistas de diferentes regiões do Brasil. No último dia, a diretora do MIS-PR palestrou sobre os desafios e as oportunidades na gestão de museus voltados ao patrimônio audiovisual, sonoro e iconográfico.
Já no 8.º Fórum Nacional de Museus, que também ocorreu em Fortaleza, o MIS-PR aprovou por aclamação uma proposição de diretriz sugerida pelo próprio MIS-PR para o Plano Nacional de Cultura. A diretiva é para que os museus sejam reconhecidos como Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTs). Essa classificação permitirá a contratação de profissionais qualificados, a criação de redes colaborativas e o acesso a recursos financeiros específicos para projetos de pesquisa e inovação.
Também como voz relevante, o MIS-PR palestrou sobre “Desafios territoriais e gestão de acervos das artes” no Seminário da Funarte, no Rio de Janeiro. De 2 a 4 de dezembro, o evento reuniu artistas, especialistas em acervos e gestores culturais de todas as regiões do Brasil.
EXPOSIÇÕES – O ano de 2024 também foi marcado por mostras dentro do Palácio da Liberdade que dialogam com o acervo do museu e propõe reflexões sobre a realidade atual. Nesse sentido, destacam-se as exposições “Cartas para o futuro”, de Bruna Alcântara, e “Desver”, de Ivana Cassuli e Marcelo Borges Eggers, do grupo Blanche Bois.
Com curadoria da produtora cultural Michele Michelletto, a mostra “Cartas para o futuro” apresentou 46 obras inéditas da Bruna, que utilizou fotos antigas de mulheres, digitalizadas do acervo fotográfico do museu e transformadas com intervenções em bordado, colagem e pintura. As obras nas paredes foram acompanhadas de mesa de jantar, cama, criado mudo, abajures, tapetes, lustres, xícaras e vasos de flores que criaram o ambiente de uma casa antiga, como a casa de uma avó, ou das mulheres retratadas nas fotos do acervo.
A exposição “Desver”, disponível no primeiro andar do Palácio da Liberdade, propõe a reflexão sobre os ciclos de nascimento, vida e morte. O conceito questiona as percepções condicionadas e abre espaço para novas maneiras de ver o mundo. A instalação reúne “glitch art”, “vídeo painting” e intervenções artísticas que utilizam erros tecnológicos como ponto de partida para novas expressões visuais e sonoras.
Outras exposições que ocorreram dentro MIS-PR também merecem destaque, como a história dos 55 anos do Museu da Imagem e Som do Paraná, que apresenta a linha do tempo da instituição. Já a mostra “Paraná Turístico” apresentou fotografias do acervo do museu de diversas localidades paranaenses atrativas.
UNIVERSIDADE – O diálogo do MIS-PR com as universidades contribuiu para a ocupação do museu com música e debate. O aliado principal destas atividades é a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), que deu continuidade aos projetos Tons Vizinhos e o Cineclube Cerejeira. Além disso, as aulas práticas no Palácio da Liberdade são curriculares da disciplina de preservação audiovisual do curso de cinema, e da disciplina de preservação de acervo do curso de museologia.
O projeto Tons Vizinhos é uma parceria entre o MIS-PR e a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) da Unespar. Todas as quartas-feiras, professores e alunos da universidade literalmente atravessam a Rua Barão do Rio Branco para fazer apresentações musicais gratuitas. Já o Cineclube Cerejeira reuniu estudantes e apreciadores de cinema para sessões de filmes e debates.
MIS-PR – O Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR) é um equipamento cultural do Estado. Criado em fevereiro de 1969, o museu é o segundo mais antigo do gênero no Brasil e tem como principal finalidade preservar, conservar e divulgar a memória audiovisual paranaense.
Possui um acervo com mais de 3 milhões de itens, entre discos em vinil, fotografias, negativos fotográficos, depoimentos, fitas de áudio, documentos e filmes. Também conta com um acervo tridimensional com centenas de equipamentos como rádios, radiolas, moviolas, câmeras fotográficas e projetores. Além disso, tem biblioteca com mais de 2 mil itens, como livros e periódicos sobre cinema, fotografias, cartazes e outros impressos.