Mulheres vigilantes: a trajetória das profissionais de segurança dos espaços culturais

A profissão de vigilância e segurança pública é historicamente apropriada pelos homens, porém, assim como em outras profissões, as mulheres se colocam cada vez mais presentes e rompem tetos de vidro estabelecidos pela sociedade.
Publicação
15/03/2025 - 09:00

No mês de março é comemorado o Dia Internacional das Mulheres (8). A data é marcada pela luta das mulheres em diferentes áreas, em especial no trabalho. Diversos são os setores nos quais a presença de mulheres é baixa ou não incentivada. Nesse meio se encontra a área da segurança e vigilância. No entanto, ao conhecer mais das vivências de mulheres que atuam na área de segurança nos espaços culturais do Paraná, é possível identificar que o quadro de gênero está mudando, pois além de ocuparem cada vez mais a área, as mulheres também têm a oportunidade de alcançar postos de liderança.

Na Secretaria de Estado de Cultura do Paraná, são mais de 40 mulheres que atuam como seguranças nos espaços culturais, zelando pelo patrimônio, protegendo os visitantes e auxiliando na experiência de milhares de pessoas que transitam por esses lugares. Dentre os museus, centros de ensino, biblioteca e a própria secretaria, a presença de mulheres na vigilância aumenta gradualmente.

Estabelecida por normas da Polícia Federal, para que fique caracterizada a condição de vigilante é necessária a qualificação conquistada por curso especializado. O currículo do curso inclui competências relativas à segurança física, pessoal e patrimonial, direito penal, técnicas operacionais, manuseio de armamento e tiro, defesa pessoal etc. A legislação ainda exige que a pessoa vigilante realize reciclagem bianual, proporcionando ao profissional ensino atualizado constante, além de testar sua aptidão para continuar a exercer suas funções corretamente.

Vivendo realidades opostas do ofício, Noeli Rodrigues da Silva (60 anos) trabalha atualmente na segurança do prédio da Secretaria de Estado da Cultura e aguarda sua aposentadoria em breve, enquanto Teresa Ursulino dos Santos (37) acaba de iniciar sua jornada profissional como segurança do Museu Paranaense (MUPA). Noeli iniciou sua carreira como vigilante em 2009 e lembra que, naquela época, as mulheres realmente eram a minoria: “Enquanto eu estava fazendo o curso, nós éramos em 54 pessoas, mas eu contava mais ou menos umas 6 mulheres ao todo”, diz ela.

No entanto, destaca que hoje vê muitas mulheres nessas posições e fica feliz pelo caminho percorrido. Noeli atribui à profissão a oportunidade de ter mais estudo, algo que era de difícil acesso em sua cidade natal, Francisco Beltrão. Reconhece que o estudo foi a porta aberta para que ela conquistasse o que queria e cuidasse de sua família. “Quanto mais cursos as mulheres fazem, melhor para elas. Basta você correr atrás que você consegue. Estudar é o básico”, diz Noeli.

 

Noeli Rodrigues da Silva, segurança da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Foto: Kraw Penas
Teresa Ursulino dos Santos, segurança no Museu Paranaense. Foto: Kraw Penas/SEEC

Ainda em seu primeiro ano como vigilante, Teresa afirma que começar uma nova jornada profissional foi um progresso para ela. Há tempos passou a admirar mulheres que atuavam na área e sonhava quando seria sua hora de vestir o uniforme. Com esforço e dedicação, Teresa conta que em 2024 iniciou este capítulo de sua vida e procura continuar evoluindo. Ela destaca: “Eu espero poder crescer na profissão cada vez mais”. Em contrapartida com o início da carreira de Noeli, o que Teresa aponta foi a majoritária presença feminina em seu curso, contribuindo para o argumento de que a ocupação de mulheres na área cresce cada vez mais.

Como parte da equipe de segurança do Museu da Imagem e Som  do Paraná, Marilene da Silva (35 anos) e Andressa Eduarda Figueiredo (24 anos) percorreram milhares de quilômetros para alcançarem seus objetivos profissionais. Marilene, natural de Manaus, veio para a capital paranaense com os dois filhos após enfrentar situações de discriminação como profissional de segurança em sua cidade natal, especialmente por ser mulher

 

Ao entender que a sociedade impunha limites em sua carreira devido ao gênero, encontrou em Curitiba a oportunidade de se desenvolver mais plenamente na profissão. Contando com 10 anos de carreira, Marilene, além de se sentir acolhida na cidade, também valoriza estar atuando diretamente em um espaço cultural. Segundo ela, “em Curitiba eu pude me aproximar de diferentes formas de cultura e aprender muito com o próprio museu”.

Eduarda chegou em Curitiba com apenas 10 anos, vinda de Rio Branco. Após alguns anos percorrendo diferentes ofícios, uma amiga a convidou para atuar como segurança por uma noite, e isso bastou para que ela descobrisse sua paixão pela profissão. “É um trabalho que nos empodera e que podemos chamar outras mulheres”, diz ela. Eduarda conta que em seus anos de atuação já apresentou a área para diversas mulheres que passaram a trabalhar como vigilantes, contando com sua própria irmã, recém-chegada em Curitiba. “Nesta profissão há muito companheirismo entre nós”, destaca.

Marilene da Silva (à esquerda) e Andressa Eduarda Figueiredo (à direita), seguranças no Museu da Imagem e do Som. Foto: Kraw Penas/SEEC

 

Izabel Wojcik, segurança no Centro Juvenil de Artes Plásticas. Foto: Kraw Penas/SEEC

Em outros casos, como de Izabel Wojcik (55 anos), segurança no Centro Juvenil de Artes Plásticas (CJAP), a profissão foi o plano B. Izabel cresceu admirando seus parentes que atuavam na segurança pública e queria ser guarda municipal, no entanto, acabou seguindo para a vigilância. Apesar de se direcionar para uma profissão diferente, em seus 15 anos trabalhando na área, ela afirma que é gratificante poder zelar por espaços como o CJAP.

Ela conta que já trabalhou em outros espaços culturais, porém, foi enquanto estava no Museu Casa Alfredo Andersen que seu cuidado especial com as crianças foi reconhecido e o próprio diretor do CJAP convidou-a para trabalhar lá. “Eu também me sinto cuidada pelas crianças, que sempre demonstram muito carinho por quem trabalha aqui”, diz Izabel.

 

O crescimento profissional também faz parte da experiência feminina na segurança dos espaços culturais, como conta Regina Maria Rodrigues da Costa Brenning (43 anos), líder de equipe no Museu Oscar Niemeyer. Há 19 anos trabalhando como segurança, Regina diz que “de todos os lugares que eu já trabalhei, esse foi onde eu mais cresci como pessoa”.

Começou a trabalhar como vigilante, porém seu cuidado com os visitantes e interesse a fizeram ser promovida e agora é a segunda mulher a ser líder de equipe no espaço. Ela diz notar que a diversidade no quadro de líderes fez com que os conflitos fossem mais rapidamente resolvidos entre a equipe. “Ainda é uma profissão mais voltada para o homem do que para a mulher, mas podemos mostrar que não precisa ser assim. O profissionalismo deve ser avaliado pela competência e não pelo sexo.”

Regina Maria Rodrigues da Costa Brenning, segurança no Museu Oscar Niemeyer. Foto: Kraw Penas

 

 Para a Secretária de Cultura, Luciana Casagrande Pereira, “ser mulher trabalhando nos espaços culturais tem relação com a transformação de vida, empoderamento, superação e aprendizado. Agradecemos a cada uma das profissionais que dedicam sua vida para proteger e zelar pelo patrimônio e por cada uma das pessoas que frequentam estes lugares. Que a ocupação de mulheres nesta área possa crescer cada vez mais. Feliz dia das mulheres!”.

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