Os primeiros museus do Brasil e o Museu Paranaense 23/05/2022 - 16:39

Ainda celebrando a temática deste mês, que envolve a 20ª Semana Nacional de Museus e o Dia Internacional dos Museus, no último dia 18/05, abordaremos agora um pouco da história dos museus aqui no Brasil, buscando apresentar as origens dos primeiros museus do país. Para ler mais publicações sobre a Semana Nacional dos Museus (SNM), nossas últimas postagens foram todas feitas em torno desse tema. Para saber mais sobre a SNM, clique aqui.

Durante os séculos XVI e XVII na Europa, houve grande popularização e crescimento dos chamados gabinetes de curiosidades, que eram compostos de coleções de materiais de natureza e procedência variada, que reuniam objetos considerados exóticos de terras distantes, minerais, fósseis, esqueletos, animais empalhados, miniaturas, obras de arte, máquinas e inventos, conforme aponta o pesquisador Ricardo Carvalho Rodrigues.

Galerias palacianas
Dentro desse contexto, também surgiram nos grandes palácios europeus as chamadas galerias palacianas, que eram exposições de coleções que reuniam esculturas e pinturas importantes do período, ou do passado, que carregavam grande simbolismo, além de serem vistas como sinônimo de status para as elites europeias. Tanto as galerias palacianas como os gabinetes de curiosidade instigaram o conhecimento no período, assim como tiveram participação no desenvolvimento local, porém, no final do dia, ainda eram essencialmente coleções privadas e inacessíveis à população em geral.

Frontispício do livro "Musei Wormiani Historia" mostrando o quarto das maravilhas de Worm.

 

A partir da popularização e do surgimento de novas demandas nos gabinetes e nas galerias, houve a necessidade de uma profissionalização e qualificação das atividades que eram realizadas nesses locais. A partir das transformações que foram ocorrendo, com o passar do tempo fez com que fosse fortalecida a construção de um ideal, que vai se modificando até chegar nos museus modernos.

No século XIX, a partir desses novos entendimentos, os museus passaram a ser espaços de comemoração, símbolos das nações e espaços de memória das coletividades. Dominique Poulot coloca que “o museu clássico do século XIX, na Europa, é o símbolo de uma nação ou de uma coletividade”. Dessa forma, a conservação e a construção da memória das nações, que nesse período passou a ter um caráter científico, torna-se um dos objetivos buscados pelos museus. Dentro desse contexto, no Brasil, foram considerados os principais museus do século XIX: o Museu Nacional, Museu Paraense Emílio Goeldi, o Museu Paulista e o Museu Paranaense.

Museus brasileiros
Apresentando brevemente a história dos museus brasileiros, começamos pelo Museu Nacional, que pode ser considerado o mais antigo museu de história natural no Brasil, e está localizado no Rio de Janeiro. Sua origem, em 1779, pode ser associada com a Casa dos Pássaros, que teve seu acervo e pessoal incorporados ao Museu Real, após sua criação por D. João VI em 1818. Após a Proclamação da República, em 1889, passou a ser chamado Museu Nacional. Em 2 de setembro de 2018, houve um incêndio de grandes proporções no local, fato que fez com que grande parte do acervo de 20 milhões de itens fosse perdido, assim como o comprometimento de sua estrutura histórica e tombada. Atualmente o museu está interditado e deverá ser reconstruído, porém, sem previsão de reabertura.

O Museu Paraense foi criado em 1866, a partir de uma sociedade científica formada por intelectuais da província do Pará, a Associação Filomática do Pará. Porém, sua inauguração ocorreu somente em 1871. Desde sua criação até 1872, foi dirigido por Domingos Soares Ferreira Pena, que em sua gestão propôs ações de criação de uma instituição de ensino superior, promovendo os estudos das ciências da natureza na região. O museu promovia atividades educativas a partir das pesquisas desenvolvidas no local.

Já o Museu Paulista foi inaugurado em 1895, sendo criado a partir de uma coleção particular, doada inicialmente para o governo do estado de São Paulo, pelo conselheiro Mayrink e depois adquirida pelo coronel Sertório, em 1890, que fundou o chamado Museu Sertório, que veio a dar origem ao Museu Paulista. Em 1894, esse acervo foi encaminhado para o então Monumento do Ypiranga, sendo criado um museu independente, inaugurado oficialmente em 7 de setembro de 1895, sob a direção do Dr. H. von Ihering.

Museu Paranaense
Em relação ao Museu Paranaense, daremos mais destaque e aprofundamento pela sua importância (e localização), aqui no Estado do Paraná. Dessa forma, continuando as temáticas museológicas, será contemplado rapidamente o histórico do museu, além de uma análise do seu entorno.

A inauguração do Museu Paranaense no ano de 1876 foi um marco para o Paraná, por ser a primeira instituição museológica do Estado e a terceira do Brasil. Teve como primeira sede o Palácio São Francisco e inicialmente, o funcionamento da instituição se dava de forma particular, o que fez com que a atuação governamental ficasse limitada a uma forma de apoio. O acervo, que já contemplava 600 peças (uma diferença considerável se compararmos com o acervo atual, de cerca de 400 mil itens), chamou a atenção de Dom Pedro II, que teceu generosos comentários em sua visita ao museu.

Posteriormente, a instituição passa a ser administrada pelo governo estadual, além de participar da Exposição Antropológica Brasileira, no Museu Nacional, em 1882. Já entre os anos de 1950 e 1970, assumiu uma posição mais focada em antropologia, arqueologia e história, que se mantém até a atualidade, tenho um setor específico para cada área. Em 2002, fixou-se na sede atual, localizada na Rua Kellers, 289, no bairro São Francisco, no coração do centro histórico da cidade.

O prédio fica próximo a locais de grande importância para a cidade, como a Casa Romário Martins, o Palácio Belvedere, a fonte do Cavalo Babão e a Igreja do Rosário, que podem ser vistos como alguns dos exemplos de edificações e espaços históricos que compõem o entorno do museu. Uma curiosidade a respeito do seu entorno é o quadro entendido como de autoria do famoso pintor francês Jean-Baptiste Debret, de 1827:

Jean-Baptiste Debret -1827

 

O quadro é considerado a primeira representação artística da paisagem de Curitiba, e foi pintado em frente à atual sede do Museu Paranaense, mais precisamente nas ruínas do São Francisco, atrás das escadarias. É um exercício interessante ir até esse ponto da cidade e comparar a paisagem do século XIX, apresentada na pintura, com a vista atual, sobretudo a serra do mar. Além desses espaços, várias outras instituições culturais podem ser visitadas nesse circuito do centro histórico curitibano, como o Museu de Arte Sacra (MASAC), a Casa Hoffmann, sede da Consultoria de Dança da Fundação Cultural de Curitiba, a feirinha do Largo da Ordem e uma grande variedade de restaurantes.

Este texto foi produzido pelas residentes técnicas e historiadoras Francine Gehring Martinez e Mariana Mayumi Abe Oliveira, e revisado pela museóloga Raisa Ramoni Rosa.

 

Referências

GOVERNO DO PARANÁ. Apresentação: Perpétua Aclimação. Museu Paranaense. Disponível em: https://www.museuparanaense.pr.gov.br/Pagina/Apresentacao.

RODRIGUES, Ricardo Carvalho. Museu Paranaense: caminhos, contextos, ações museológicas e interações com a sociedade. Secretaria de Estado da Cultura. Sociedade de Amigos do Museu Paranaense - SAMP. Curitiba, 2018. Disponível em: https://www.museuparanaense.pr.gov.br/sites/mupa/arquivos_restritos/files/documento/2020-09/museu_paranaense_ricardo_carvalho_rodrigues.pdf.

SANTOS, Myriam S. Os museus Brasileiros e a constituição do imaginário nacional. Revista Sociedade e Estado. Brasília, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/jhHKQtgxMTh5ZYxKFt38zpM/?lang=pt.

VASCO, Kim Alan. Um pouco de arte do Paraná: Jean-Baptiste Debret. UFPR. Curitiba, 2014. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~coorhis/kimvasco/debret.html.

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