No último domingo (5), o Brasil parou para aclamar a atriz brasileira Fernanda Torres, premiada na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro por sua atuação em “Ainda Estou Aqui”. O filme, dirigido por Walter Salles, retrata o desaparecimento de Rubens Paiva e o drama da família. É a primeira vez na história que uma atriz brasileira ganha o prêmio internacional.
A produção, que já coleciona reconhecimentos globais, teve participação de profissionais paranaenses, firmando o papel do estado no cenário audiovisual. O roteiro, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, foi adaptado pelos curitibanos Murilo Hauser e Heitor Lorega; já o elenco conta com os atores curitibanos Marjorie Estiano, Lourinelson Vladmir e Otávio Linhares.
“A presença de talentos paranaenses em produções de grande porte como ‘Ainda Estou Aqui’ reafirma a força criativa do estado e sua contribuição significativa para o cinema brasileiro”, pontua a secretária de estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira. “O cinema nacional tem tudo para chegar muito longe, e o Paraná é de fato um grande celeiro de talentos e de profissionais de ponta, preparados para todas as etapas da cadeia de produção audiovisual.”
EM CENA COM FERNANDA – Otávio, que interpreta um investigador, conta que sua seleção para o papel ocorreu de maneira inusitada: Walter Salles o escolheu após ver uma cena de outro filme, “Barba Ensopada de Sangue”, de Aly Muritiba, ainda na ilha da edição. Na cena, o ator interpretava um delegado em uma sequência tensa e sombria.
“Recebi uma ligação da produção de elenco, fiz um teste rápido e quando vi eu estava no Rio de Janeiro fazendo prova de figurino”, conta. "Foi tudo muito rápido, e também foi uma situação inusitada ter sido escolhido pelo próprio diretor, o que me surpreendeu bastante e acho que tornou mais especial a minha participação”.
Ele destaca a experiência enriquecedora de trabalhar com um dos diretores mais respeitados do Brasil e que, particularmente para ele, representa um herói desde a infância. “Embora sua obra não seja extensa, seus filmes são muito fortes e impactantes”, diz. “Eu adorava ele como diretor e quando comecei a estudar teatro e trabalhar com cinema, era uma das pessoas com quem eu queria trabalhar, mas como ele roda muito pouco eu nem sonhava com isso, então quando aconteceu foi muito incrível.”
Além da oportunidade de trabalhar com Walter Salles, o ator curitibano relata ainda como foi participar de uma megaprodução. “Quando você trabalha nessas grandes produções, fica diante de profissionais ímpares, de pessoas muito talentosas", afirma. “Ter contracenado com Fernanda Torres foi maravilhoso, ela é uma inspiração para qualquer profissional do teatro e do cinema, uma pessoa fantástica; foi uma experiência que me engrandeceu bastante.”
CIDADANIA CURITIBANA – Apesar de não ser paranaense, o ator e roteirista sul-mato -grossense Luiz Bertazzo, que também tem um importante papel no longa-metragem, carrega uma história pessoal tão conectada a Curitiba que reivindica uma dupla cidadania. “Eu me formei artista em Curitiba, considero ter essa dupla nacionalidade corumbaense-curitibano", brinca. Nascido em Corumbá, município do Mato Grosso do Sul, o ator se mudou para a capital paranaense para estudar.
“Eu tinha muita vontade de ser ator e Curitiba trazia essa ideia de um celeiro de grandes artistas, tinha muito essa ideia de que a cidade é um bom lugar para a formação de atores, e de fato é”, diz. “Então me mudei para lá e entrei na Faculdade de Artes do Paraná, onde me formei em Artes Cênicas e tive uma trajetória de dezoito anos em Curitiba na mesma companhia, a CiaSenhas de Teatro".
No final de 2021, mudou-se para São Paulo, onde conseguiu um teste para o filme de Walter Salles por meio de uma produtora de elenco. “Eu fiz um teste para o papel de um militar, mas não sabia bem qual seria. Depois disso foi incrível poder estar no set com o Selton Mello, com a Fernanda Torres, ser conduzido pelo Walter Salles, que tem uma condução muito elegante”, complementa.
AMBIENTAÇÃO – E não foram apenas atores e atrizes conectados ao Paraná que fizeram diferença no longa. Um laboratório fotográfico de Curitiba, o Lab:Lab Análogico, teve importante contribuição com a produção, realizando um procedimento técnico bastante específico. A equipe do laboratório especializado em fotografia analógica foi incumbida de transformar arquivos digitais em películas físicas, criando slides fotográficos que endossam a construção narrativa do filme.
O laboratório já possui reconhecimento nacional ao revelar, digitalizar e produzir filmes com métodos artesanais, além de desenvolver processos químicos próprios, como a fórmula LL4, que possibilita a revelação de filmes cromo, procedimento exclusivo na América Latina. Além do projeto feito para “Ainda Estou Aqui”, a equipe também coleciona outros trabalhos importantes, como a revelação e digitalização fotográfica de um ensaio dos cantores Milton Nascimento e Esperanza Spalding, por exemplo.