A Semana do Patrimônio Cultural, promovida pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (SEEC), por meio da Coordenação de Patrimônio, teve início com palestras e relatos de experiências.
Na segunda-feira (11), a programação começou no Auditório Poty Lazzarotto do Museu Oscar Niemeyer, com uma mesa de conversa sobre os 90 anos de criação do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (CEPHA), órgão responsável por avaliar propostas que envolvem bens e áreas tombadas. Entre os participantes, estavam dois dos homenageados com a Medalha de Mérito Cultural: o historiador Aimoré Índio do Brasil Arantes, que falou sobre o pioneirismo preservacionista no Paraná; e o arquiteto e urbanista José La Pastina Filho, que apresentou ações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Estado.
A manhã prosseguiu com uma mesa temática sobre os 25 anos do Decreto Federal n.º 3.551 – que instituiu o registro do Patrimônio Cultural Imaterial no Brasil. A museóloga do Museu de Ciências da Terra, Célia Maria Corsino, abordou a trajetória e a consolidação da Política de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
No período da tarde, os debates contemplaram a participação social como princípio dessa política, com o historiador do IPHAN, Juliano Martins Doberstein; as leis e registros no Paraná, com o historiador João Guilherme Züge; e o patrimônio imaterial de Curitiba na última década, com o historiador Gabriel Serratto Paris.
Segundo João Guilherme Züge, a Semana do Patrimônio evidencia o pioneirismo paranaense. “Em 1935, o estado já discutia questões muito inovadoras para a época. Ao mesmo tempo, o evento nos permitiu olhar para o futuro e para os novos desafios do patrimônio. Foi um momento de diálogo entre diferentes instâncias – federal, estadual e municipal – e também com as comunidades detentoras de saberes práticos. Este evento marca um novo momento para a política patrimonial no Paraná, consolidando as práticas de salvaguarda do patrimônio imaterial”, destacou.
DIA 2 – Na terça-feira (12), a programação iniciou com a palestra "Preserve o que lhe pertence: perspectivas antropológicas sobre cultura popular e patrimônio imaterial no Paraná", ministrada pela antropóloga da Universidade Federal do Paraná, Caroline Blum.
Na sequência, mestres e detentores de saberes compartilharam experiências: Fandango Caiçara (Paranaguá), com o mestre Aorélio Domingues de Borba; Saberes Faxinalenses (Prudentópolis), com José Almicar Pastuch; Saberes de Clubes Sociais Negros (Guarapuava), com Carlos Eduardo Burkhard; e Foliões e Festa do Divino (Guaratuba), com Luiz Antonio Michaliszyn Filho. Encerrando o dia, a historiadora da UNESPAR Ana Paula Peters apresentou palestra e apresentação cultural sobre o choro.
Para o mestre Aorélio Domingues de Borba, o evento amplia a visibilidade da diversidade cultural tradicional do Paraná junto a agentes, instituições e gestores públicos. “No caso do fandango, foi um momento especial para mostrar a manifestação na atualidade, suas formas de sobrevivência, trajetória e necessidades, além dos obstáculos para a salvaguarda. Este evento reuniu mestres, detentores e agentes públicos, que puderam visualizar esses desafios de perto”, afirmou.
Carlos Eduardo Burkhard ressaltou que a iniciativa é essencial para fomentar o debate entre o setor público, instituições de ensino, estudiosos e sociedade. “Os clubes sociais negros desempenham papel fundamental desde sua criação. Hoje, muitos já não possuem sede, mas o patrimônio imaterial – memórias, relatos, saberes, fotos e documentos – precisa ser registrado e compartilhado. Encontros como este são oportunidades de colocar ideias em prática e buscar soluções para que essas memórias cheguem às futuras gerações”, pontuou.
Já José Almicar Pastuch, mestre dos saberes faxinalenses, destacou a importância de dar visibilidade às lutas pela preservação dos grupos faxinais remanescentes, especialmente em Prudentópolis. “Muitas pessoas presentes desconheciam o nosso sistema de faxinais. É muito bom ter esse espaço para compartilhar nossas experiências com outras comunidades”, disse.
No mesmo sentido, Luiz Antonio Michaliszyn Filho, mestre do saber de Foliões e Festa do Divino, ressaltou a importância da Semana do Patrimônio pela troca de experiências. “O evento propicia a aquisição de conhecimento e também a atualização sobre questões de legislação e até de políticas que estão sendo desenvolvidas, mas que muitas vezes não chegam ao nosso conhecimento. Tivemos a oportunidade de divulgar a Festa do Divino para um número maior de pessoas. Poder falar de algo que eu gosto, que vivencio e que sei ser muito importante para a população – não apenas de Guaratuba, mas de outras localidades – é extremamente gratificante”, afirmou.
DIA 03 – Na quarta-feira, 13 de agosto, O dia foi dedicado ao Projeto Andanças do Patrimônio – Etapa Paraná, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que busca estabelecer as bases do Sistema Nacional de Patrimônio Cultural (SNPC). A iniciativa promove o diálogo entre comunidades, gestores públicos, pesquisadores, mestres, estudantes, organizações e sociedade civil, discutindo estratégias para preservar e promover o patrimônio cultural.
A abertura contou com a participação da secretária de Cultura, Luciana Casagrande Pereira; da superintendente do IPHAN no Paraná, Fabiana Moro Martins; e da coordenadora do Escritório Estadual do MinC no Paraná, Loa Campos.
“O Andanças do Patrimônio é uma oportunidade singular de escuta e construção coletiva. Um trabalho que se constrói com diálogo, representatividade, acessibilidade e equidade, fortalecendo redes, territórios, a economia do patrimônio e integrando as pautas de sustentabilidade e adaptação climática. Preservar o patrimônio é uma responsabilidade compartilhada. Exige ação conjunta entre governos federal, estaduais e municipais, instituições públicas e privadas, conselhos de cultura e patrimônio, comunidades e detentores de saberes populares. É assim, de forma colaborativa e democrática, que vamos garantir políticas mais sólidas, eficazes e inclusivas”, afirmou Luciana.
PROGRAMAÇÃO – Com o tema “Caminhos do Imaterial à Convergência Nacional”, a Semana do Patrimônio Cultural segue até 17 de agosto. A agenda inclui treino coletivo noturno, pedal coletivo, lançamento do livro “Serra do Mar: Patrimônio Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico” e abertura da exposição “Serra do Mar: Caminho do Itupava”, na quinta-feira (14).
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ENTREGA DE MEDALHAS DE MÉRITO CULTURAL – Na solenidade de abertura da Semana do Patrimônio Cultural, a secretária estadual da Cultura Luciana Casagrande Pereira entregou Medalhas de Mérito Cultural a três personalidades que marcaram a preservação e valorização do patrimônio paranaense.
Os homenageados foram o arqueólogo Igor Chmyz, pioneiro da arqueologia histórica no Brasil; o montanhista e ambientalista Henrique Paulo Schmidlin, conhecido como “Vitamina”; e o arquiteto José La Pastina Filho, que atuou por mais de duas décadas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Paraná (IPHAN-PR).
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