Maestro Luís Otávio Santos, especialista em música barroca, apontou os principais pontos para quem quer aprender mais sobre a história da música ficar atento durante o concerto
Sem a música barroca hoje não teríamos orquestras, óperas ou sinfonias nos padrões que conhecemos. O maestro Luís Otávio Santos, que irá reger a Orquestra Sinfônica do Paraná neste final de semana, é especialista em música antiga e professor na Emesp (Escola de Música do Estado de São Paulo). Aproveitamos uma pausa nos ensaios para conversar com ele sobre este período tão importante para a nossa história.
Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) – Maestro, você poderia nos explicar mais sobre o período Barroco?
Maestro Luís Otávio Santos – Na história da música, nós temos diversos períodos que foram batizados para a gente entender melhor esse percurso todo. O período Barroco é a época que a gente pode situar entre 1600 e 1750 e é uma época importantíssima com muitas novidades e muitas que a gente sente o eco até hoje. Por exemplo, a invenção da orquestra, a invenção da ópera, a invenção da música instrumental solística e virtuosística, tudo isso é um produto do Barroco. Temos também uma série de compositores que são muito importantes e que influenciaram muito compositores posteriores, como Bach, como Vivaldi, como Corelli, como Handel. É um período que merece sempre uma atenção especial porque tem um repertório vastíssimo e muito importante.
OSP – E tem alguma característica da música barroca em especial que o público poderá perceber nas obras que serão apresentadas neste domingo?
Maestro – A música barroca tem como característica principal a eloquência e o caráter retórico. É uma música que fala muito diretamente ao público, então também por isso existe essa popularidade e esse fácil acesso à música clássica através do período Barroco. Os compositores [barrocos] pensavam a música como um discurso, como um teatro, não é a toa que a ópera é um produto desta época. Os instrumentos falam entre si, a construção musical é como se fosse um grande teatro, onde as pessoas estão realmente dialogando e há personagens, há uma intriga, há um roteiro. Cada movimento, cada peça, a gente pode encarar como uma história. Isso diferencia muito o Barroco dos estilos posteriores, como o romantismo e a música moderna e contemporânea, então é uma música que fala diretamente ao público mesmo que o público não entenda as regras musicais, ela fala muito ao coração e a mente das pessoas.
OSP – O tamanho da orquestra para o concerto deste domingo está um pouco reduzido. As obras do período barroco pedem orquestrações menores?
Maestro – As formações musicais do período barroco eram menores do que se a gente comparar com o que seria depois a orquestra sinfônica do período romântico. Todas as obras eram pensadas em uma instrumentação mais transparente. Quando a gente vai fazer uma interpretação mais estilisticamente correta, que na verdade é uma das minhas pesquisas, me aprofundar nessa informação histórica que a gente tem à disposição pra melhorar a nossa interpretação, a gente chega a conclusão que é inquestionável que as formações menores contribuem mais para essa eloquência, esse diálogo e esse discurso sonoro. Não necessariamente tão pequenas, mas comparado ao padrão sinfônico é realmente muito menor.
OSP – O Barroco existiu na música brasileira também? Temos compositores barrocos?
Maestro – Tem o que a gente chama de música colonial, que é o período pré Império. Do que seria da música do século XVII, equivalente ao barroco, infelizmente se perdeu muita coisa. O que temos muito bem documentada é a música do fim do século XVIII, que corresponde ao estilo galante, ao estilo pré-clássico, até por uma defasagem do estilo musical da Europa demorava um certo tempo para chegar aqui no Brasil. O que se fazia em 1780 na Europa, não é o que se fazia em 1780 aqui no Brasil, não é necessariamente uma música barroca, mas é uma música pré-Revolução Francesa. A gente chama tudo que é romantismo de pré-Revolução Francesa, seja clássico, barroco ou renascentista, então nós temos um repertório aqui no Brasil que está dentro deste contexto.
OSP – Muito obrigada, maestro!
Concerto Barroco
Domingo, 9 de junho, 10h30
Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto – Guairão
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)