O poder dos museus e sua responsabilidade 16/05/2022 - 16:39

Dando sequência ao segundo dia da Semana Nacional de Museus 2022 e às publicações da COSEM em comemoração a essa data, falaremos sobre o tema do evento escolhido para este ano: O poder dos museus.

Caso ainda não tenha lido a publicação anterior, que fala sobre a Semana Nacional de Museus e por que ela existe, clique aqui.

Ao pensarmos nas relações de poder inerentes aos museus, chegamos à compreensão geral de sua capacidade de influenciar, revolucionar, questionar e ressignificar a história, seu entorno e seus públicos, o que promove mudança seja dentro ou fora dessas instituições.

Gabinetes de curiosidades
Desde a pré-história os seres humanos cultivam o hábito de colecionar, mas foi no período do renascimento que surgiu o conceito de coleções privadas, usadas como símbolo de poder econômico das famílias pertencentes às classes sociais mais abastadas e que serviram de base de pesquisa científica, histórica e etnográfica ao longo do tempo.

Os chamados gabinetes de curiosidades eram os locais onde os donos de coleções privadas guardavam e expunham suas coleções compostas por objetos de viagens, vestígios de fauna, flora e outros itens curiosos coletados em expedições. Além de virar um lugar de estudo e observação, tais coleções funcionavam também como um mecanismo de legitimação do prestígio de quem os pertencia e acumulou objetos ao longo de suas viagens pelo mundo, sendo uma forma de mostrar o poder perante a sociedade.

GABINETE DE CURIOSIDADES

Com o passar do tempo, os gabinetes de curiosidade foram se tornando cada vez mais relevantes, tornando-se mais acessíveis e dando lugar ao museu, todavia, é recente a ideia de que os museus são espaços pensados para atender toda a sociedade, como uma instituição que busca trabalhar questões relevantes ao todo e que busca dialogar com seu entorno.

No Paraná, por exemplo, muito da história da população negra e indígena se fez invisibilizado pela colonização e cultura europeia, e os museus ao longo do tempo negligenciaram por completo esse apagamento, contando a história de nosso estado e sociedade a partir de um recorte que não contempla e não reconhece a existência do todo, mesmo que boa parte dos acervos seja composta por objetos e obras que dizem respeito a essas populações, mas que acabam sendo retratados somente de uma perspectiva etnológica e não histórica.

Lugar de poder
Sobre o poder pertencente aos museus, recai atualmente a responsabilidade que essas instituições têm em retratar a história de uma perspectiva justa, coerente e respeitosa, que contemple a todos e que seja engajada com o coletivo.

É importante entender esse espaço como um lugar de poder, pois dentro dessa nova perspectiva de museu, o conhecimento ali produzido deve estar alinhado com os valores de uma sociedade contemporânea tais como o respeito, a diversidade, a inclusão e a democracia, promovendo o debate de novas ideias, instigando a reflexão de temas diversos e desenvolvendo ações de educação, lazer e cultura para seus diferentes públicos.

Este texto foi produzido por Sâmela Dara dos Santos, estagiária em museologia da COSEM, e revisado pelo residente técnico e museólogo Alex Godoy Padilha de Souza, e pela museóloga Raisa Ramoni Rosa.

Referências:

BAUER, Jonei. Museu, Museologia e Museografia. Website, 2022. Disponível em: https://www.triscele.com.br/triscele/museu-museologia-e-museografia. Acesso em: 18 abr. 2022.

CHAGAS, Mario. Museus, memórias e movimentos sociais. CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA, 41 - 2011, [s. l.], p. 5 - 16, 2011