Patrimônio histórico e cultural do Paraná, Estrada da Graciosa completa 150 anos

Publicação
23/08/2023 - 17:08
Editoria

Importante rota turística, a Estrada da Graciosa (PR-410) completa em 2023 um século e meio de construção. Seus aspectos culturais e naturais lhe conferem valor imaterial, tanto pela importância na cultura local dos municípios de Antonina, Morretes e Quatro Barras, quanto pela contribuição econômica para a história do Paraná. Inaugurada oficialmente em 1873, a Graciosa tem uma história que precede a chegada dos primeiros colonizadores ao Paraná.

O trecho paranaense da Serra do Mar abriga as maiores elevações do centro-sul do Brasil, como o Pico do Paraná e seus 1.992 metros de altitude. Popularmente conhecida como Cordilheira da Marinha, essa cadeia montanhosa foi o grande obstáculo entre o litoral e o planalto paranaense. Há mais de 350 anos, os indígenas utilizavam diversas trilhas para cruzar a Serra do Mar. Esses caminhos na Mata Atlântica eram usados em tempos de colheita do pinhão. A Graciosa era uma dessas trilhas, embora ainda não tivesse esse nome.

No século XVII, colonizadores e jesuítas se estabeleceram no Paraná; o então chamado Caminho da Graciosa tornou-se uma via essencial para o transporte de insumos e mercadorias entre a capital Curitiba e as cidades litorâneas. A estrada era uma popular rota de tropeiros e foi considerada o caminho mais seguro para o transporte de cargas pesadas. Ainda assim, a Estrada Graciosa era um caminho estreito e grosseiro, calçado em um dos relevos mais hostis do Brasil.

Somente em 1854, após a emancipação da Província do Paraná, o imperador do Brasil, Dom Pedro II, autorizou a construção de uma estrada estadual ligando Curitiba a Antonina. O Caminho da Graciosa serviu de guia para a nova obra que tornaria a via carroçável, concluída em 1873.

O engenheiro civil Paulo Sidnei Ferraz, membro do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico e coordenador dos eventos comemorativos dos 150 anos da Estrada, aponta que foram inúmeras as dificuldades durante a construção, a começar pelo próprio projeto: “dez engenheiros trabalharam durante 19 anos para que essa obra fosse concluída”. Dentre os motivos que prolongaram a construção, destacam-se a densa floresta, os ataques de animais, doenças dos operários e brigas políticas.

A Graciosa, como rota logística, presenciou a passagem de produtos de importação e exportação, principalmente o café, que foi elemento econômico essencial para o Estado. Além disso, foi via de passagem de políticos, viajantes e imigrantes, que chegavam ao Paraná pelos portos de Antonina e Paranaguá. Ferraz conta que, em visita ao Paraná, em 1880, a comitiva do Imperador Dom Pedro II subiu e desceu a Graciosa de carruagem. 

Até meados do século XX, a Estrada da Graciosa foi a única rodovia pavimentada a ligar Curitiba ao litoral paranaense. Com a abertura da BR-277, a Graciosa passou a servir principalmente como via turística. As curvas sinuosas e a proximidade com a natureza a tornaram um popular destino turístico. Hoje, já pavimentada, reúne espaços históricos relevantes, como pontes, igrejas, recantos e monumentos.

Para Paulo Ferraz, a Estrada da Graciosa é uma relíquia para a história do Estado. Sua relevância também serve de instrumento de preservação para os visitantes, sendo um posto avançado em meio à floresta. “Acredito que a preservação e normatização do uso da Estrada da Graciosa podem potencializar o turismo contemplativo e fortalecer a economia das cidades do litoral”, afirma Ferraz.

Patrimônio cultural

Segundo Aimoré Índio do Brasil Arantes, historiador da Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC), a origem de todos os caminhos da América é indígena. São os chamados caminhos pré-colombianos que tiveram uma grande contribuição da sabedoria dos povos indígenas para sua criação. “O homem branco europeu não tinha conhecimento suficiente para desbravar as novas terras”, diz.

A Estrada da Graciosa está inserida na Serra do Mar, junto com outras intervenções humanas como a Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. A Serra do Mar é um bioma rico em biodiversidade, estendendo-se do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro. O cenário fascinante da serra atrai aventureiros de todas as regiões do Brasil.

Embora a Estrada da Graciosa não seja em si tombada, o trecho paranaense da Serra do Mar pelo qual a via atravessa teve seu tombamento efetivado pelo Governo do Estado em agosto de 1986. O tombamento ocorreu conforme a Lei Estadual 1.211/1953, que dispõe sobre o patrimônio histórico, artístico e natural do Paraná. A área também foi reconhecida como patrimônio mundial da UNESCO e constitui um dos mais belos exemplos de patrimônio cultural, natural e turístico do Brasil. “O Caminho da Graciosa, mais do que um patrimônio cultural dos paranaenses, é um espaço de memória e contemplação”, afirma Aimoré

A Lenda da Graciosa

O antigo Jornal “Dezenove de Dezembro” publicou, em 1854, uma lenda popular sobre o Caminho da Graciosa. Nela, um gigante chamado Marumby, que habitava as Serras da Marinha, apaixonou-se por uma princesa que morava ao norte, ela se chamava Graciosa. O gigante era apaixonado e desejava a mão da princesa, mas não foi correspondido. Marumby, então, lançou uma forte tempestade na serra, que alagou o Caminho da Graciosa e o tornou pantanoso.

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